A história que
trago pra vocês hoje, trata-se de algo bem mais profundo do que isso. Em um
país onde mulheres só podem caminhar nas ruas se estiverem completamente
vestidas dos pés á cabeça, uma delas se tornou a primeira mulher à surfar no
Irã.
Confira a
reportagem:
Primeira a surfar no Irã tenta levar o esporte a mulheres e crianças do
país
Irlandesa Easkey Britton capta
recursos para ensinar a população. Viagem à República Islâmica virou documentário, que será lançado na França.
Quando pôs os pés sobre a prancha, ainda menina,
Easkey Britton não imaginava chegar tão longe. Era década de 90, nas águas
frias da costa oeste da Irlanda. Mas, entre correntes e marés, ela dropou o
preconceito e se tornou, aos 26 anos, a primeira mulher a surfar no Irã. O feito virou um documentário, com lançamento previsto para esta terça-feira, na França. E a
experiência que mudou sua vida ganhou um segundo capítulo, com o sonho de
difundir o esporte no país, principalmente entre mulheres e crianças.
Em uma entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, por e-mail, Easkey conta o que viu no
país do aiatolás, seus planos para o futuro e como o esporte pode transformar
as pessoas. Veja fotos da viagem da irlandesa ao Irã.
Easkey
Britton se tornou a primeira mulher a surfar no Irã (Foto: EaskeyBritton.com)
"Estamos no estágio inicial de planejamento para
introduzir o surfe no Irã. Queremos levar equipamento para ensinar a população.
Mas não é fácil, precisamos planejar bem, captar recursos. Tivemos muita
receptividade, especialmente com meninas e mulheres. Muita gente se juntou para
olhar o que fazíamos."
Ao lado da cinegrafista francesa Marion Poizeau,
Easkey permaneceu no país durante duas semanas, em um confortável hotel três
estrelas, sem a companhia de um único turista ocidental.
"Tinha preconceito, não sabia muito sobre o país. Entendia um pouco da
história do Império Persa. Mas minha imagem era toda baseada no que saía na
imprensa. Um país com sanções nucleares, extremismo e com campanhas para
direitos humanos."
Nos quase 20 dias em que permaneceu por lá, Easkey teve a oportunidade de
conhecer, além do surfe, a cultura local e o cotidiano do povo.
"A hospitalidade foi o destaque da viagem. As pessoas foram cordiais e
acolhedoras. Na verdade, você nunca escuta histórias sobre a população local e
o cotidiano. Se você pudesse aprender a aceitar as pessoas como elas são, o
mundo seria diferente. Agora, enxergo os dois lados, e ele é sempre mais
complexo do que parece. O Irã é um país bonito. Há esperança de dias melhores e
valores muito importantes, como a família."
Easkey Britton teve de cobrir os
cabelos para surfar (Foto: EaskeyBritton.com).
A ideia de conhecer e surfar no país surgiu do
espírito aventureiro, característico dos surfistas.
"Sempre adorei viajar, explorar novos lugares e aprender como as outras
pessoas vivem. Então, acho que era inevitável acabar em algum lugar estranho
com minha prancha. Claro que o Irã não é conhecido por suas ondas, mas percebi
que poderia ser uma ótima experiência para acabar com preconceitos. Não queria
permanecer ignorante. Senti que precisava ir, experimentar e tirar minhas
conclusões."
O local escolhido foi uma praia próxima a Chabahar,
no sul do país, perto da fronteira com o Paquistão. Em seu planejamento rumo ao
desconhecido, Easkey e a cinegrafista Marion Poizeau tiveram ajuda de uma
empresa de turismo iraniana, que ajudou na logística:
"A primeira vez que encontrei Marion, ela estava na capital Teerã. Ela tinha uma pequena câmera HD, um grande entusiasmo para o desconhecido e para contar histórias, assim como eu. Fomos alimentada pela nossa paixão, curiosidade e um orçamento inexistente" - contou, empolgada.
E a imagem de uma praia deserta em um território inóspito não sai de sua cabeça.
"A primeira vez que encontrei Marion, ela estava na capital Teerã. Ela tinha uma pequena câmera HD, um grande entusiasmo para o desconhecido e para contar histórias, assim como eu. Fomos alimentada pela nossa paixão, curiosidade e um orçamento inexistente" - contou, empolgada.
E a imagem de uma praia deserta em um território inóspito não sai de sua cabeça.
"Com o surfe, você nunca sabe realmente o que vai ter pela frente, é imprevisível, ainda mais se tratando de Irã. Encontrar boas ondas seria a cereja do bolo. Mas tudo foi surpreendente! Descobrimos um banco de areia que dava boa formação, com ondas de 1 metro. Um cenário maravilhoso, com o deserto ao fundo, parecia Marte - completou ela, que comprou um hijab, não feito exclusivamente para o surfe, mas que serviu para cobrir seu corpo."
Meninas observam Easkey Britton (Foto: EaskeyBritton.com)
Surfe no nome, doutorado e ondas grandes
Surfista acaba de concluir doutorado. (Foto: EaskeyBritton.com)
Easkey Britton nasceu na Irlanda e se acostumou a
surfar nas águas geladas da praia de Rossnowlagh, banhadas pelo Oceano
Atlântico. Seu avô foi um dos pioneiros do esporte no país, quando, na década
de 60, voltou da Califórnia com duas pranchas. Seria, então, redundância falar
que o esporte está no sangue da família, mas, no caso dos “Easkey”, faz
sentido.
"Cresci no oeste da Irlanda, surfo desde criança -
explica ela, batizada com o nome de um vilarejo na região costeira do país,
tradicional destino de surfistas. Easkey deriva de ''Iasc'', que significa
peixe em gaélico."
Títulos, reconhecimento internacional e patrocínios vieram com os anos. E a procura de boas ondas foi o passo seguinte. Com 16 anos, já havia se tornado a primeira irlandesa a se aventurar em Teahupoo, a temida onda do Taiti. Praias cubanas também já fazem parte do currículo de Easkey, que acaba de concluir um doutorado em conservação marinha e sonha virar surfista de ondas grandes.
"Recentemente, descobri minha paixão por surfe de onda grande, inspirada por outras mulheres como a brasileira Maya Gabeira, do Brasil, e a adorável argentina Mercedes Maidana."
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