terça-feira, 17 de julho de 2012

Fabricando uma Prancha de Surf


Quando mandei fazer minha prancha, quis acompanhar todo o processo, tanto para aprender um pouco sobre a fabricação, quanto para que ela saísse exatamente como eu sonhava. Então, hoje vou mostrar pra vocês os passos de fabricação de uma prancha de surf. As informações foram tiradas de uma entrevista exclusiva com o shaper Fernando Carvalho, da FC Surfboards, e vão nos fazer entrar um pouquinho nesse mundo.
O primeiro passo para a fabricação da prancha é a escolha do material do bloco. Aqui no Brasil você pode escolher de Poliuretano ou de EPS (Isopor). Um dos blocos de isopor mais conhecidos por aqui é o da Keahana. Quando você compra esse bloco ele vem com o kit completo de todo o material necessário: bloco, fibra, resina para cada fase, lixas, recipientes de mistura, etc. A Teccel é uma concorrente nacional que já fabrica bloco de isopor.


 Uma das diferenças de mais destaque é que as de EPS você pode reciclar as sobras, e as de Poliuretano não. Infelizmente, aqui em Fortaleza não ter quem recicle então acaba indo para  o lixo de qualquer forma.
A de EPS tem mais durabilidade e amarela menos, porque é feita com resina  Epoxi ou Epóx. Essa resina tem a vantagem de ser menos toxica, não tem cheiro, e, como já foi falado, possibilita o processo inverso (reciclagem). Outra diferença é que o bloco de isopor permite por volta de 30% a mais de flutuação em relação ao Poliuretano. Para o shaper, tem o lado da laminação, que a de Poliuretano é bem mais rápida porque já vem com um formato de prancha, mas as de EPS são consideradas mais resistentes.


Quanto ao amarelamento, hoje já se usa filtro na resina, o que tardia esse processo. A qualidade do bloco também define se amarela rápido ou se demora mais. Na prancha de Poliuretano o que amarela é o bloco, já na de EPS  é a resina. 
Quando perguntado sobre a resina, o shaper disse que é essa escolha que define a qualidade, e quem faz essa escolha é o próprio shaper, a ideal é a resina epoxi naval. O kit Keahana tem uma resina epoxi própria, é até patenteada.

Bom, escolhido o bloco, vamos aos processos!

- O 1º processo começa na sala do shaper, que é onde o bloco vai ser cortado para ganhar o formato desejado.
Precisa entender o desenho da prancha porque é isso que vai definir o desempenho da prancha, e como ela vai fluir na água. O outline é como se chama a área de curvas da prancha a ser trabalhada, e é onde será feito o design. Essa combinação de curvas (templates) são divididas em 04 partes do bloco: bico, meio, wide point (parte mais larga da prancha) e rabeta.



Se você é iniciante e não entende nada das medidas, o melhor mesmo é conversar com o shaper para que ele entenda e possa reproduzir seu desejo na prancha. De maneira bem geral, se tiver aprendendo é melhor uma maiorzinha, já se o intuito for mandar manobras é preferível uma menor. Você tem que explicar se sua preferência é furar com mais facilidade, se é pra entrar mais rápido na onda, se é estabilidade no drop ou se você quer mesmo é VELOCIDADE! Porque daí é que vão ser definidas as medidas das 04 partes do bloco.

- Quando estiver pronta pra sair da sala, o bloco EPS leva uma camada de prime, que é tipo uma pasta e serve para impermeabilizar (a de Poliuretano não leva prime).

- Depois vai para a pintura! Aí é escolha do cliente e vai da criatividade de quem pinta, podendo ser usado pistolas, spray ou canetas (A minha quem fez foi o Júnior Negão e ficou iradíssima).

- Em seguida vai para a sala de laminação para fazer o revestimento. Primeiro passa uma camada de resina para umedecer a superfície e conseguir uma melhor aderência na fibra, depois coloca um tecido (fibra de vidro) do tamanho da prancha, pressionando e aplicando outra camada de resina. Assim, o tecido vai sumindo quando vai colocando a resina. Faz isso dos dois lados da prancha, e depois corta as sobras do tecido. 

Sabe aquele “adesivo” da logo do shaper, do nome Keahana e outras logos? Eles não são adesivos. Na verdade são papéis de seda impressos com tinta à base de solvente. Quando se coloca a resina, some o papel e fica somente a tinta.

- Depois coloca as quilhas: se for fixa, cola direto a quilha na prancha utilizando resina mesmo, sem perfurar a prancha; se não for fixa, é nessa hora que se perfura a prancha para colocar os copinhos. É nessa hora também que se cola o copinho do strep.

- Para finalizar, dá outro banho de resina e lixa para tirar as imperfeições. Após essa etapa a prancha já está pronta para ser entregue.
A maioria coloca depois uma camada de glass, podendo ser fosca ou polida, isso é o que vai definir o brilho.
O processo de cura é o período que a prancha precisa para secar totalmente antes de ser usada. Normalmente se deixa sete dias. Se não esperar o tempo suficiente, a prancha pode amassar e ficar com marcas.
O shaper Fernando Carvalho tem uma coleção de revistas de surf clássicas como a Fliper e a Fluir, desde as edições mais antigas (ele tem a primeira edição da Fluir, essa aí da foto!), e ele as utiliza como fonte de inspiração. 

Fernando conta com uma experiência de 27 anos como shaper, e é um dos nomes mais conceituados em Fortaleza. Tem a profissão como um hobby, fazendo por prazer, paixão, mas seu diploma mesmo é em engenharia. Tanto que, hoje em dia, Fernando se diz aposentado e faz prancha apenas para alguns clientes VIP.

 Para visualizar melhor o que foi falado, é só checar o vídeo abaixo:
Fotos: Dandara Borges









Por: Natasha Facó